terça-feira, 8 de junho de 2010

Saga dos retirantes

Pó, eira, somente poeira.
Terra seca e rachada,
Trincando a pá e a enxada,
Sem cercado e nem beira.

Tendo o sol por fronteira,
Que castiga e inferniza,
Nenhum sopro de brisa,
Só o gemer da porteira.


A velha e seca parreira,
Não dá sombra ou abrigo.
Forma um imenso jazigo,
De corpos em fileira.
Nenhuma algibeira,
No ombro de um forte,
Só carcaça e morte,
E aves carniceiras.

Da fome à cegueira,
Na criança palito.
Neste sertão maldito,
Só raiz nas chaleira.

O gado, morre a beira
De um grande sequeiro.

Sem verde rasteiro,
Só fome e caveira.


Respirando poeira.
Segue em fila o retirante,
Sangrando pés e a fronte,
Numa dor costumeira.

Em prece derradeira,
Com as mãos pro infinito,
Ninguém escuta um só grito,
Surdo o céu, a terra inteira.

Há uma culpa cegueira,
Uma elite que se elege.
Mas só as meias protege,
Cuecas e algibeiras.
Compram suas cadeiras,
Com a indústria da fome,
Nas urnas um novo nome

A listar a roubalheira.
13/05/2010






2 comentários:

André Aires disse...

Um dos meua favoritos, mãe. ]]
Beijão

Unknown disse...

Amor, lí cuidadosamente todas as suas poesias, fiquei encantado pelo seu dom poético, todas são excelentes e primorosas, porém, ACUREI-ME mas no SONHO DE BEATRIZ, pois vivenciei vc dormindo em seu sonho de fantasia e me senti presente nele.