Andando livres, sozinhos,
“Três
meninos do Brasil”
Três
pássaros cor de anil
Tinham
na alma a inocência
Que
toda criança tem
Na
favela aonde viviam
Pelas
ruas percorriam
Sem
vigilância ou prudência.
Três meninos numa gaiola viram um
passarinho
levou, levou, levou, levou.
Mas por onde hoje andam os peraltinhos
Sumiram e nenhum voltou
Na
favela, o traficante
Posta
a coroa de rei
Dita
a sua própria Lei
Matando
quem o contraria
Sem
atender a ninguém
No
mais perverso reinado.
Rouba
o papel do estado
Omisso
e sem autonomia.
O Pica-pau o pica-pau picou, picou.
Foi ver o ninho e noutro dia não voltou
O Pica-pau o pica-pau picou, picou.
Bico doeu e desapareceu
Tum tum tum tum tacatá
Tum tum tum tum tacatá
tacatá tum tum.
Três
passarinhos azuis
Que
juntava a garotada
Ao
soltar pipa e pelada,
Sol
no peito e braços nus
Entre
lixo e urubus
Entre
becos e terraços
Com
os pesinhos descalços
Andavam
de norte a sul
Se esta rua se se esta rua fosse
minha
Eu mandava eu mandava enfeitar
Com pedrinhas encontradas lá nos
rios
Minha escola, minha escola ladrilhar.
Um
dia pelo caminho
Passeando
sem a bola
Pegaram
uma gaiola
Dentro
dela um passarinho
Um
nambu ou um canarinho
Eram
crianças apenas
Leves
como as leves penas
Mas
vistos por um vizinho.
Três passarinhos dominé
Caíram no laço dominé
Não mais brincaram dominé
Não mais voltaram. dominé
Nem mais um beijo dominé
Nem mais um abraço dominé
Deletados
- as crianças,
Caíram
na inquisição
Do
mais tirano chefão
Que
sem clemência ou fiança
Encomendou
a matança
Tortura
na execução
Aqueles
três pequeninos
Torturados
por ferinos
Foram
jogados na lama
Tutu marambá, não venha mais cá.
Que homens sem almas
Te mandam matar
Tutu marambá, não venha mais cá.
Que homens sem almas
Te mandam matar.
Meu
pai, minha mãe não chorem.
A
Terra é muito cruel
Somos
três anjos no céu
Olhem
pras pipas e verão
Alexandre
– o Albatroz
Fernando
Gaivota o Fê.
Mateus
Silva o Miudinho
O
céu é o nosso caminho
Batem
aqui três corações.
No fundo da mata ouvi
Piados de três mutuns
Piavam e soluçavam pra sempre
Oi tum, tum, tum.
E toda a terra chorava minha gente
Oh! Tum, tum, tum.
Justiça não haverá
Que salve nossas crianças
Num país sem esperança
Sem lei e sem proteção
Mais três corações parados
Balas perdidas ceifando
O asfalto alimentando
Sem assumir a matança.
Três meninos passarinhos nunca mais irão voltar
Três meninos passarinhos nunca mais irão voltar
levou, levou, levou, levou.
E as famílias que perderam os seus menininho.
Corrói, corrói, corrói de dor.
Rio, 14/09/2021
Jailda Galvão Aires