-
Carnaval
carne
aval
aval da carne
carnaval
carne e sal
sal que arde
a pele encarde
e a mente invade
insanidade total
carnaval
mais epiderme
menos roupa
mais derme
e germe
na alma e na pele
carnaval
carne e transe
transe coletiva
transe total
esquecer desventuras
de não ter ventura
pra comemorar
esquecer por oito dias
a dureza da vida
sem saída
sem escolas,
sem comida
sem teto
sem hospitais
carnaval
delírio coletivo
arenas romanas
pão e circo
anfiteatro nas ruas
seminuas
as passarelas
amarelas...
e as sequelas
epidemias
drogas
boemias
torneiras vazias
fome, miséria,
nos rostos as máscaras
de caveiras
olheiras profundas
barriga funda
vazia
há três dias.
e os retirantes
queimadas as frontes
no sol das praças
só desgraça
os fugitivos
enchendo abrigos
somando a massa
de boias frias
na rua folia
barrigas vazias.
boiada passando
remando, remando
o planalto, lá do alto
aproveitando
o delírio colossal
injeção de impostos
enchendo os bolsos
do nosso suor
sem pena e sem dó
e a propósito,
o salário final
- uma miséria total
infelizes que dormem
acordem!
é só mais um Carnaval
suor,
carne,
e aval
o que muda afinal?
Rio, 16.02.23 Jailda Galvão Aires