quinta-feira, 28 de abril de 2011

NO BICO DA CEGONHA (Graciela)

Venham todos os passarinhos,
Com seus ninhos,
Cantar em minha janela.
Quero a cegonha mais forte,
No seu bico, um curumim. 

Em volta da minha casa,
Tenho videiras frutíferas
E flores de oliveiras
Espalhadas no jardim.

Quero araras azuis,
gorjeios de sabiás.
Bando de andorinhas,
E pardais dourados,
Colibris pairando,
enamorados,
Beijando as flores
do meu pomar.

Quero anjos entoando hinos
ao som de lira
Chuvas de bênçãos
nevando ao vento
Translúcidas como a safira.

Quero gritar pro mundo
E louvar aos céus,
A bênção que recebemos
Promessa e graça de Deus.

Porque O tememos e O glorificamos
Em plenitude Ele nos honrou.
Deu-nos vida longa e filhos por herança,
E faz esta herança se multiplicar.

Veremos os filhos de nossos filhos
Como “brotos de oliveira”,
Em torno da nossa mesa,
Em volta do nosso lar.

Em torno da nossa mesa,
Em volta do nosso lar.



BURACO NEGRO

Capino o cosmo de minh’alma
E encontro entre cativas estrelas,
Doces marcas de um viver contente.
Fico feliz! Ainda posso  vê-las.

Hoje, olhando-as mais de perto,
Pasma fiquei. E quem não ficaria
Ao vê-las desbotadas, se apagando,
Sugadas em sua travessia 
por buracos negros e gases poluídos
Os mesmos gases que sem saber criei,
Guardando na mente, lixo remoído.

Uma força as sugava para o negro ventre
Besuntadas de culpa, desapontamentos,
Mágoas, escolhas, desencantos,
Ansiedades, medos e ressentimentos.

Atenta, para que não suguem o doce brilho,
Das cativas estrelas que ainda aninho.
Esqueço o lixo e encho-me de vida.
Quero  vê-las, sorrindo e brilhando,
Iluminando o céu do meu caminho.
E que as estrelas mortas
Continuem  fossilizadas,
Apagadas num um total esquecimento.
Preciso  adubar cada estrela cativa
Iluminando-a com amor, os dias ou as décadas
Em que viver feliz, ainda me resta.      
   (Rio, 25/04/2011)

quarta-feira, 20 de abril de 2011

TRIBUTO À MINHA MÃE

  Minha mãe era  pequena,
  Mais leve que a leve pena,
  Mais frágil que um papel.
  Mas tinha tanta firmeza,
  Tanta fé, que com certeza,
  Vinha de uma fonte do céu.

  Vovó, morrendo, partiu,
  Vovô também desistiu,
  De viver, sem  o seu amor
  Saiu pela vizinhança,
  Distribuiu as crianças,
  E para o céu se mudou.

  Foi triste a separação,
  Em cada casa um irmão,
  Em cada peito uma dor.
  Mas crescendo a semente
  De Deus, plantada na mente,
  Cada um foi vencedor.

  Mais tarde se encontraram,
  Nunca mais se separaram,
  Minha mãe e seus irmãos.
  Reconstruíram suas vidas,
  E minha mãezinha querida,
  Com meu pai uniu as mãos.

  Nosso lar era singelo,
  Mas parecia um castelo
  Com torres tocando o céu,
  Minha mãe nos educava,
  E com meu pai, trabalhava.
  Dividindo um só troféu.  

  De dia ensinava a gente.
  Plantando tenras sementes,
  Do ler, escrever,  somar.
  Quando chegava a noitinha,
  As nossas mãos em conchinhas,
  Hora sagrada de orar.

  Que saudades mãe querida,
  Carrego na minha vida,
  Suas canções de ninar,
  No seu peito me alinho,
  Como um filhote no ninho,
  Querendo ainda escutar:

  “Dorme, dorme, filhinha.
  Meu anjinho inocente,
  Dorme, dorme queridinha,
  Que mamãe está contente”.
       Rio, 07/05/2010. Jailda Galvão Aires

 
 
  

terça-feira, 19 de abril de 2011

INSÔNIA (ALBAP)

 Sob o meu travesseiro não tem só uma pedra 
 Tem montanhas altas, enfileiradas,
 Com cabeleiras verdes, encaracoladas,
 Onde procriam grilos e cigarras estridentes,
 Enxames de abelhas, insetos reluzentes,
 Que zoam e sibilam em meus tímpanos,
 Como pragas  infernais, para quais,
 Não existem inseticidas nem armas letais.

Não tem só uma pedra sob o meu travesseiro
Tem pedregulhos de rochas explodindo,
Pensamentos repetidos como um disco ferido
Um tal de  livre arbítrio que me força a decisões
Que eu nunca saberei se foi a melhor ou não.
Tem indagações filosóficas e muitos porquês.
Tem um passado atrelado a um futuro presente
Que torna o meu viver de agora, ausente. 

Para não ensandecer adorno o travesseiro
Trocando britas por pedras preciosas
Se o passado é lindo tem rubis travessos,
Se o futuro é afável tem esmeraldas finas 
E assim mato as noites de insônia infindas
Sob a sinfonia de grilos fofoqueiros.

Se a noite é negra caço vaga-lumes
E no lume de suas lanternas
Encho o meu quarto de estrelas
E se não posso ouvi-las qual o poeta
Posso contá-las e empilhá-las em  versos
E durmo acordada do meu jeito inverso.
                             Rio, 18/04/2011



                                         
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