quinta-feira, 28 de outubro de 2021

VIDAS SECAS (Tributo à Graciliano Ramos)

Vidas secas

Secas vidas

Almas mortas

Desfalecidas

 

Pele seca

Seca, encardida

Cheia de sulcos

Envelhecida

 

Barriga seca

Seca de fome

Palma amarga

É o que se come.

 

Criança seca

Seca e enrugada

Cheia de verme

Barriga inchada

 

Riacho seco

Seco enlutado

Morre de sede

Cachorro e gado

 

Vidas secas

Secas pisadas

Pisando espinhos

Pelas estradas

 

Mulher seca

Seca e embuchada

Mas um rebento

Vida ceifada

 

Plantas secas

Secas sementes

Mata espinheira

Sol inclemente

 

Vidas secas

Secas as almas

Desviam verbas

E a dor espalma

 

Vidas secas

Secas e vis

Dividem o Brasil

Em dois Brasis

 

Um de riqueza

Nas mãos infames

O outro morrendo

De sede e fome

 

     Vidas secas

     Secos corações

     Só homicidas.

     E corrupções 


Nada muda

Neste covil

Tão desigual

O nosso Brasil! 


São poucos os ricos

E muitos os merrecas

- Brasil das riquezas

- Brasil Vidas Secas

 

Rio, 27 de outubro de 2021

Jailda Galvão Aires


 

terça-feira, 14 de setembro de 2021

FEFÊ, MATEUS e ALEXANDRE


 Andando livres, sozinhos,

“Três meninos do Brasil”

Três pássaros cor de anil

Tinham na alma a inocência

Que toda criança tem

Na favela aonde viviam

Pelas ruas percorriam

Sem vigilância ou prudência.

 

Três meninos numa gaiola viram um passarinho

levou, levou, levou, levou.

Mas por onde hoje andam os peraltinhos

Sumiram e nenhum voltou

 

Na favela, o traficante

Posta a coroa de rei

Dita a sua própria Lei

Matando quem o contraria

Sem atender a ninguém

No mais perverso reinado.

Rouba o papel do estado

Omisso e sem autonomia.

 

O Pica-pau o pica-pau picou, picou.

Foi ver o ninho e noutro dia não voltou

O Pica-pau o pica-pau picou, picou.

Bico doeu e desapareceu

Tum tum tum tum tacatá

Tum tum tum tum tacatá

tacatá tum tum.

 

Três passarinhos azuis

Que juntava a garotada

Ao soltar pipa e pelada,

Sol no peito e braços nus

Entre lixo e urubus

Entre becos e terraços

Com os pesinhos descalços

Andavam de norte a sul

 

Se esta rua se se esta rua fosse minha

Eu mandava eu mandava enfeitar

Com pedrinhas encontradas lá nos rios

Minha escola, minha escola ladrilhar.

 

Um dia pelo caminho

Passeando sem a bola

Pegaram uma gaiola

Dentro dela um passarinho

Um nambu ou um canarinho

Eram crianças apenas

Leves como as leves penas

Mas vistos por um vizinho.

 

Três passarinhos dominé

Caíram no laço dominé

Não mais brincaram dominé

Não mais voltaram. dominé

Nem mais um beijo dominé

Nem mais um abraço dominé

 

Deletados - as crianças,

Caíram na inquisição

Do mais tirano chefão

Que sem clemência ou fiança

Encomendou a matança

Tortura na execução

Aqueles três pequeninos

Torturados por ferinos

Foram jogados na lama

 

Tutu marambá, não venha mais cá.

Que homens sem almas

Te mandam matar

Tutu marambá, não venha mais cá.

Que homens sem almas

Te mandam matar.

 

Meu pai, minha mãe não chorem.

A Terra é muito cruel

Somos três anjos no céu

Olhem pras pipas e verão

Alexandre – o Albatroz

Fernando Gaivota o Fê.

Mateus Silva o Miudinho

O céu é o nosso caminho

Batem aqui três corações.

 

No fundo da mata ouvi

Piados de três mutuns

Piavam e soluçavam pra sempre

Oi tum, tum, tum.

E toda a terra chorava minha gente

Oh! Tum, tum, tum.

 

Justiça não haverá

Que salve nossas crianças

Num país sem esperança

Sem lei e sem proteção

Mais três corações parados

Balas perdidas ceifando

O asfalto alimentando

Sem assumir a matança.


Três meninos passarinhos nunca mais irão voltar

Três meninos passarinhos nunca mais irão voltar



 Três meninos numa gaiola viram um passarinho

levou, levou, levou, levou.

E as famílias que perderam os seus menininho.

Corrói, corrói, corrói de dor.


Rio, 14/09/2021

Jailda Galvão Aires




quarta-feira, 8 de setembro de 2021

LIBERDADE, EM QUE MUNDO TE ESCONDES?

Apregoa-se liberdade aos quatro cantos                                       Como um negro véu a estender seu manto                                             E a liberdade quer à custa sair                                                  Liberdade de escrever, de poetar de ir e vir.

Liberdade para expressar, sorrir,                                           Liberdade para recuar ou pra seguir.                                     Enquanto houver no mundo um ser faminto,                                    Sem lar, sem teto, sem terra e sem trabalho,

Enquanto houver um ser sem agasalho                                            Enquanto houver uma só criança sem escola                                       Ao lado da mãe pedindo esmola,                                                      Ou soldadinho de chumbo nas mãos do tráfego                       Sucumbir a terra neste navio náufrago.                                   Enquanto a terra esteja nas mãos de poucos                         Donatários cruéis, indiferentes e loucos.                                         Queimando as matas e ampliando o chão                               Matando a natureza que lhe fornece o pão.                               Enquanto houver seres expatriados                                        Morrendo nas filas e nos mares, abortados.                                Enquanto a corrupção dominar a terra                                           Com armas ocultas semeando a guerra.

Enquanto os três poderes por orgulho e altivez                               Não entender que a união é a única saída.                                     Onde a partilha é o pão e o sal da vida!                              Alcançando por fim a Terra Prometida.

 Poderemos gritar por liberdade ?                                                     Aos quatro cantos desta imensidade                               Continuaremos escravos da ambição                                        enquanto palpitar um pérfido coração

Jailda Galvão Aires. Rio 08/09/2021. 



sexta-feira, 3 de setembro de 2021

SETE DE SETEMBRO

  • Ergue-te. Independência!
  • Por todo o nosso Brasil
  • Igualdade e transparência
  • Inclusão no céu de anil
  •  
  • Não pode a nossa Bandeira
  • Ser novamente pisada
  • Nossa Pátria brasileira
  • Não será escravizada.
  •  
  • Marchemos juntos irmãos
  • Com fé, orgulho e certeza.
  • Com o Gigante nas mãos
  • Blindamos nossa riqueza!
  •  
  • Temos terra, fauna e flora.
  • A mais rica entre as nações.
  • Nossa Pátria é vencedora
  • Vivamos dos nossos grãos
  •  
  • Liberdade é o que queremos
  • Nesta pátria varonil
  • O que plantamos colhemos
  • Viva a força do Brasil!
  •  
  • Não queremos invasores
  • Explorando o nosso chão
  • Só seremos vencedores
  • Com a força em cada mão.
  •  
  • Temos coragem e destreza
  • Aremos a nossas terra
  • Exportar nossa riqueza
  • Ser livre na paz. Sem guerra!
  •  
  • A bandeira não é mortalha
  • Pra cobrir a podridão
  • Venceremos a batalha
  • Levantando o pavilhão!
  •  
  • “Ergue de novo ó Andrada!”
  • Bem alto a nossa bandeira
  • Lá no alto, desfraldada,
  • Vista pela Terra inteira.
  •  
  • “Colombo abre os teus mares”
  • Mostra para o mundo inteiro
  • Quer por terra, rios ou ares.
  • Brasil é o maior celeiro!
  •  
  • Castro Alves, o Brasil.
  • Será a maior nação
  • Terás sob o céu de anil
  • O Cruzeiro em tua mão.
  •  
  • Do Ipiranga, o grito,
  • Ecoa forte no Peito
  • O Brasil é reescrito
  • - Independência é direito.
  •  
  • Avante, Brasil avante!
  • Mostra a todos teus brasões.
  • Acorda livre ó Gigante.
  • Não aceitamos grilhões.
  •  
  • Quem o  ama ó! não duvide!
  • Quer o Brasil por inteiro
  • Aquele que o divide
  • Jamais será brasileiro.
  •  
  • Nossa forte “ Terra Amada”
  • Nossa Pátria mãe gentil
  • Jamais será comandada.
  • É livre! Viva o Brasil!
  •  
  • Jamais seremos escravos
  • De qualquer país da Terra.
  • Nas mãos não teremos cravos
  • O suor é a nossa guerra.
  •  
  • “ ... se plantando tudo dá.”
  • Assim escreveu Caminha
  • Maior riqueza não há
  • Do mundo é a maior vinha!
  •  
  • “Criança, tu não verás
  • Nenhum país como este.”
  • Te orgulha e honrarás
  • A terra em que nasceste.

  • Tens o futuro nas mãos.
  • Do mundo a maior glória!
  • Varre os vermes que aqui estão
  • Reescreve a nossa história.
  •  Rio, 07 de setembro de 2021
  •   Jailda Galvão Aires,




terça-feira, 27 de julho de 2021

SÃO JOÃO

 No crepitar das fogueiras 

Nas noites de São João

Estrelas subiam ao céu

E o céu beijava o chão.

 

 No alto uma lua branca

Namorando as fogueiras,

Fagulhas subindo ao céu

Estrelas beijando estrelas

 

Luz unia Terra e Céu

Tenho certeza que eu via

Anjos brincando com Deus

De mãos dadas com Maria

 

Terra e céu se transformava,

Num colorido balão

Todos viravam crianças

Nas noites de São João.

Jailda Galvão Aires






quarta-feira, 21 de julho de 2021

RESILIÊNCIA I

 Ser resiliente é ser milagroso                                           Ser de si mesmo e para o outro esteio                                    Buscar no pequenino algo grandioso                         Provar que meio copo é um copo cheio

É abrir trilho em solo pedregoso                                  Vergar como bambu e não abrir ao meio                             É acalmar um mar impetuoso                                            Alcançar a praia sem nenhum receio

 

É por no peito pontes de safena                                           E atravessar as pontes deste mundo.

É ver Maria em cada Madalena.

 

É ingerir limão adoçado ao mel.

É ver e não julgar um eu profundo.

Que estrelas brilham mesmo escuro o céu.

      Jailda Galvão Aires 28/06/2021