Vidas secas
Secas vidas
Almas mortas
Desfalecidas
Pele seca
Seca, encardida
Cheia de sulcos
Envelhecida
Barriga seca
Seca de fome
Palma amarga
É o que se come.
Criança seca
Seca e enrugada
Cheia de verme
Barriga inchada
Riacho seco
Seco enlutado
Morre de sede
Cachorro e gado
Vidas secas
Secas pisadas
Pisando espinhos
Pelas estradas
Mulher seca
Seca e embuchada
Mas um rebento
Vida ceifada
Plantas secas
Secas sementes
Mata espinheira
Sol inclemente
Vidas secas
Secas as almas
Desviam verbas
E a dor espalma
Vidas secas
Secas e vis
Dividem o Brasil
Em dois Brasis
Um de riqueza
Nas mãos infames
O outro morrendo
De sede e fome
Vidas secas
Secos corações
Só homicidas.
E corrupções
Nada muda
Neste covil
Tão desigual
O nosso Brasil!
São poucos os ricos
E muitos os merrecas
- Brasil das riquezas
- Brasil Vidas Secas
Rio, 27 de outubro de 2021
Jailda Galvão Aires