- Sou fugitivo de guerra,
Não tenho abrigo nem terra
Perdi a Pátria e o meu lar
A estrada é minha sina
Estrada que não termina.
Ninguém me quer abrigar.
Perdi amigos, meus filhos.
Perdi amigos, meus filhos.
Procuro por entre os trilhos.
Estarão vivos? Não sei.
A esperança me impele
Sou esqueleto sem pele
Será que ainda os verei?
Ficar em casa! - Que casa?
Ficar em casa! - Que casa?
Este vírus que arrasa
Por certo não me verá.
Sou palha seca, ao relento,
Há dias não me alimento
Que vírus me encontrará?
Há dias não me alimento
Que vírus me encontrará?
Sou invisível ao mundo
Não passo de um moribundo
A morte nem me quer mais
Se vivo é pela esperança
De rever minhas crianças
Esposa, amigos, meus pais.
Não entendo a raça humana
Julga-se tão soberana
Mais forte que o próprio Deus
Ergue casas, palacetes...
Como se fossem enfeites
E bombardeiam os seus.
À exemplo, os passarinhos
Voam e não destroem o ninho
Nem os coelhos, suas tocas.
Ursos hibernam o frio
O lobo constrói covil
Nenhum destrói sua loca.
Não lamento estar na rua
Tendo por Pátria a lua
- O céu é a Terra final.
Quero meus filhos comigo
Minha família é o abrigo
A minha terra Natal.
- Onde estás que não responde
- Onde estás que não responde
OH! Deus meu, onde te escondes,
Que não vês tamanho horror.
Tu és o dono da Terra
Acaba com toda guerra.
Faz florescer o amor
- Filho meu, eu não castigo,
- Filho meu, eu não castigo,
Dei a todos o mesmo abrigo
Partilhei de igual o grão.
O homem por egoísmo
Tornou a terra um abismo
Expatriando o irmão.
- Senhor Deus dizei agora
- Senhor Deus dizei agora
A este verme que implora
Onde estão os filhos meus?
Se mortos, por piedade!
Leva-me à Tua Cidade.
Nos uniremos nos céus.
Rio, 21/04/20 Jailda Galvão Aires.