terça-feira, 21 de abril de 2020

FUGITIVOS DE GUERRA

- Sou fugitivo de guerra,
Não tenho abrigo nem terra
Perdi a Pátria e o meu lar
A estrada é minha sina
Estrada que não termina.
Ninguém me quer abrigar.

Perdi amigos, meus filhos.
Procuro por entre os trilhos.
Estarão vivos? Não sei.
A esperança me impele
Sou esqueleto sem pele
Será que ainda os verei?

Ficar em casa! - Que casa?
Este vírus que arrasa
Por certo não me verá.
Sou palha seca, ao relento,
Há dias não me alimento
Que vírus me encontrará?

Sou invisível ao mundo
Não passo de um moribundo
A morte nem me quer mais
Se vivo é pela esperança
De rever minhas crianças
Esposa, amigos, meus pais.

Não entendo a raça humana
Julga-se tão soberana
Mais forte que o próprio Deus
Ergue casas, palacetes...
Como se fossem enfeites
E bombardeiam os seus. 
 
À exemplo, os passarinhos 
Voam e não destroem o ninho 
Nem os coelhos, suas tocas. 
Ursos hibernam o frio 
O lobo constrói covil 
Nenhum destrói sua loca.

Não lamento estar na rua
Tendo por Pátria a lua
- O céu é a Terra final.
Quero meus filhos comigo
Minha família é o abrigo
A minha terra Natal.

- Onde estás que não responde
OH! Deus meu, onde te escondes,
Que não vês tamanho horror.
Tu és o dono da Terra
Acaba com toda guerra.
Faz florescer o amor

- Filho meu, eu não castigo,
Dei a todos o mesmo abrigo
Partilhei de igual o grão.
O homem por egoísmo
Tornou a terra um abismo
Expatriando o irmão.

- Senhor Deus dizei agora
A este verme que implora
Onde estão os filhos meus?
Se mortos, por piedade!
Leva-me à Tua Cidade.
Nos uniremos nos céus.
   Rio, 21/04/20 Jailda Galvão Aires.

quinta-feira, 9 de abril de 2020

(COVID - 19) AÇÃO E REAÇÃO

De onde surgiu, sutil e sorrateiro
Invisível, envolto em nevoeiro
Sem aviso, sem sinal... Um invasor.
De sobressalto, tomou o mundo inteiro
Na velocidade da luz, o forasteiro
Veio cruel, mortal e avassalador.

Como um raio, feriu a humanidade
Caiu igual sobre a desigualdade
Rompendo o véu de toda indiferença
Tomou palácios, derrubou o nobre
Revelando que ser rico ou pobre
Não torna imune a tão cruel sentença.
 
Vencendo os gênios da experiência
Tomou de sobressalto a ciência
Confundiu realidade e ficção.
Um novo vírus surge aleatório?
Se foi ensaio de um laboratório
Não existe prova ou explicação. 

- Senhor meu Pai. dizei-me agora
Que faz a humanidade nesta hora
Incapaz de vencer tão besta fera
É pior do que as armas nucleares
Se espalha pelo ar, por chão e mares,
Desarmando o poder de toda a Terra. 

Eis que uma voz desce do céu e exprime:
- Filho, Deus não castiga o ser  sublime
O mais perfeito da Sua criação.
Presenteei um paraíso lindo
Um céu estrelado de um azul infindo
Ondas beijando o mar na amplidão.

A natureza a despertar em festa 
Cantando as aves por toda floresta
Galhos verdejantes  a tocarem o céu
Flores - mil cores, de beleza intensa
Plasmei a marca da minha presença
No coração de cada filho meu.

Fiz um celeiro. Flores e fragrância,
Frutas, legumes, grãos em abundância
Pra dividir igual entre os irmãos.
O mais fortes usurpam as riquezas
Roubam a terra, tiram o pão das mesas
Escravizam crianças e até nações.

Detém o mundo, e dos palacetes
Deleitam vinhos em ricos banquetes
Enquanto a massa morre sem comida
Dorme nas ruas ao frio e sem abrigo
Amarga a fome em meio ao perigo
Vegeta e vive sem viver a vida.

 Fertilizei o ar, o chão, rios e mares.
Plantei florestas, pântanos, pomares...
De vida e cantos enchi o universo
Mas o homem por ganância e egoísmo,
Destrói do macro ao micro organismo
Dos animais tornou-se o mais perverso.

Os fortes criam armas. Fazem a guerra.
Sentem-se donos do céu e da Terra
Cidades inteiras são jogadas ao chão.
Refugiados fogem do mortal perigo
Muitos países a lhes negar abrigo,
Amontoados em "campos de concentração". 

Foi mister que se parasse o mundo
Mostrar ao homem que basta um segundo
Para que o amor retorne aos corações
Confinados, os pais abraçam o filho,
E há tanta alegria, descobertas e brilho
Mesmo à distância avós cantam canções.

Verá o homem que a humanidade
Só ascenderá havendo caridade
Pertence a todos este real jardim
Respeitando a cada diferença
Sem discriminação e sem sentença
Pois todos são iguais perante a Mim.

Olhem em volta por toda a natureza
Vejam que renasceu toda beleza
Que imprimi em toda criação.
 Mais importante ainda, filho meu
O DNA - à minha  semelhança
Retorna a vibração  de uma criança 
A fé e as orações alcançam o céu.

Este alerta mortal parou a Terra
Depôs as armas que fomentam a guerra
Despiu o homem de toda crueldade
Quando este instante já tiver passado 
O mundo vestirá o manto abençoado
De cores mil, por toda a eternidade.
         Rio, 09/04/2020.  Jailda Galvão Aires.