segunda-feira, 12 de abril de 2021

FALE BAIXINHO

Não, não grites

o amor é tão sensível

fale baixinho

devagarinho

vai que ele acorde

se apavore

fuja de mansinho

e nunca mais retorne. 

 

Não, não grites

alegra-te em silencio

murmura como eu

que ouço o peito teu 

Vai que ele acorde

se apavore

fuja de mansinho

e nunca mais retorne

 

Não, não grites

suspire apenas

dorme por favor

no seio do nosso amor

deixa que transborde

jamais discorde

fique de mansinho

e nunca mais acorde.

Rio, 26/04/2021

Jailda Galvão Aires

 


DRAMA NORDESTINO

Racha o sol

teiú no anzol

madrugada

pé na estrada

meio dia

barriga vazia

três horas

a fome aflora 

vinte horas

vai embora

vem à noite

outro açoite

já em casa

lenha na brasa

preparo o rango

palma e calango

chama a filharada

corre a ninhada

comem o lagarto

lambem o  prato

Jão traz água

mãos em chagas

a lua espia

a pobre Maria

todos na esteira

à noite inteira

escola tem não

enxada na mão

vai ano entra ano

o mesmo abandono

manhã descortina

abre a cortina

a mesma rotina

fecha a cortina.

Jailda Galvão Aires Rio (17/04/21


NADEAR

De manhã

Divã

De dia

Apatia

De tarde

Sol arde

entardecer

só comer

De noite

amoite

Madrugada

Balada

Amanhã

Hortelã.

Segunda

barafunda

terça,

ponta-cabeça

Quarta

infarta

Quinta

minta

sexta

seresta

sábado

animado

domingo

bingo

Pra semana

outra cana

Para o mês

talvez

Para o ano?

que tirano?

trabalhar?

nem pensar

Eta-ferro!

ninguém é de ferro.

pernas pro ar

 só  quero sonhar.

viver e filosofar.

 Jailda Galvão Aires


 

APATIA

     Tem dias que a gente se sente

um náufrago perdido

sem leme

sem rota,

ao sabor do vento

sem direção.

um partir que não parte

um ficar que não fica...

uma pedra com limo

que escorrega da mão.

 

tem dia que a gente voa

numa gaiola apertada

sem sol

sem sombra

sem água

sem alpiste

um voar que não voa

um náufrago atrelado

asas sem plumas

um resistir que não resiste

 

tem dias que a gente canta

com a voz embargada

sem som

sem eco

sem acorde

um rouco bemol

um bocejo espremido

um dó sem ré

um lá sem mi

só dó de si, sem sol.

 

 e a vida

sem vida

demora a passar

num partir sem ficar

num ficar sem partir

num murmúrio sem cantar.

J G Aires 12/04/2021