segunda-feira, 30 de agosto de 2010

NOSSOS OLHARES

Teu olhar, meu olhar, verde e castanho 6-10
Refletem o amor em comunhão, 6-10
A luzir em castiçais de estanho,     6-10
Sonhamos nós dois numa canção 6-10


Teu olhar, meu olhar faróis risonhos,  6-10
Chamas apaixonadas em convulsão
Colibris a voar entres sonhos 6-10

Lado a lado na mesma direção.6-10

Teu olhar, meu olhar, pura magia! 6-10
Grande amor renovado a cada prova
Se um fala de amor, o outro diz poesia.6-10


Teu olhar, meu olhar, doce canção 6-10
Dois poemas unidos numa trova 6-10
Enraizados na mesma oração. 6-10

                      Jailda Galvão Aires  


quinta-feira, 26 de agosto de 2010

CAMUFLAGEM

Quem nunca ornou para a felicidade,
Um leito azul, um róseo cortinado,
E ao despertar encontra ao lado,
Mordaz tristeza a exalar saudade?


Quem não andou na vida belos dias,
Com mãos entrelaçadas, ao luar,
E hoje olhando o céu  ao caminhar
Percebe as mãos geladas e vazias.


Quem nunca ouviu em plena madrugada
Bonita voz intensa e apaixonada...
Cantando uma canção de amor tão bela?


E ao correr feliz em direção à rua,
Buscando o amor na luz que emana a lua,
O vê cantando aos pés de outra janela.
                                             Coaraci - 1972

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

O Sonho de Beatriz


Representava no palco, bem contente
O mundo inteiro, no “Sonho de Beatriz”
Percorria, ilhas,
países, continentes,
Repetia tudo de um jeito bem feliz.

Geografia, a matéria que eu amava,
Nela viajava em sonhos colossais.
Horas de trem, navio, horas eu voava
Por céus diferentes que não vi jamais.

Cada país tem muito de singular.
Usos e costumes, músicas e danças,
Rios, florestas, animais, filosofia.

Na plateia, alguém ficava a me olhar
Dois olhos verdes, olhos de criança
Que a vida nos uniu desde este dia.
Rio, 25.08.2010

terça-feira, 17 de agosto de 2010

CARNAVAL

Carne e aval
Carne e cor
Cor de ouro,
De ouro escarlate,
Nas carnes em flor. 

Carnaval
Carne sem aval.
Sem avalista das curvas
Sem seguros sensuais,

Sem fiança de encontros.

Dos encontros casuais.

Mais epiderme que roupa
Nu artístico que rouba
Das retinas quase loucas
Reviravoltas totais.


O corpo inteiro requebra
Em movimentos - sem igual.
Serpenteia a colombina

Coberta de purpurina
Desnuda-se escultural.


O sol queimando a epiderme
Tatuando toda a pele
De sapoti e coral. 


Todos são reis e rainhas.
Das fantasias ao enredo.
- O asfalto e a favela
Se fundem na passarela
Na mágica do carnaval.


Carnaval, carne e cor
Do bronze ao escarlate
Jambo na pele dourada
Reina o sol da igualdade

Num só luxo e esplendor!
                   Jailda Galvão Aires (Rio, 2010)

AMAR SEM SER AMADA

                                          
Amar sem ser amada...
É chorar nas noites em plena solidão.
É querer tudo e não ter nada.
É sonhar todos os sonhos em vão.


Amar sem ser amada...

É ver o barco distanciar-se em cada porto,

Sem um adeus, sem certeza de partida,

Sem promessa de chegada

Amar sem ser amada...

É dar-se sem reservas, sem nada pedir.

É anestesiar a dor da indiferença
Sorvendo gota a gota a seiva da ilusão.


É contentar-se com risos descontentes.

Abraçar rosas num abraço inocente

Sem sentir que elas farpeiam o coração.


É postar-se em silêncio, sem nada exigir
Subestimar o sofrimento que advém.
Lutando com um medo inconsciente
De perder aquilo que sabe que não tem.


Amar sem ser amada...

É colher flores murchas em plena primavera

Reanimar pérolas, mortas, desbotadas
Despojar-se de si mesmo, enfraquecida
Contentando-se com restos de quimeras.


Amar sem se amada...

É camuflar no riso a dor contida
Cair na armadilha dos que passam a vida.
Buscando equacionar o indecifrável.

Mesmo sabendo que o amor é fera indomável.
                      Outubro de 1968 (Jailda) 


quinta-feira, 5 de agosto de 2010

COMPONDO (ALBAPA)

Se eu fosse escrever um poema
Se eu colheria rosas encarnadas
Se contaria punhados de estrelas
Ou caçaria borboletas douradas.

Se eu fosse escrever um poema
Não sei se fitaria o céu a dançar
Se escutaria o rumor das procelas
Ou cismaria sozinha ao luar

Se eu fosse escrever um poema
Pleno de vida, de luz e de cores,
Voaria por todo o universo 
Pelos caminho atapetando flores...

Se eu fosse escrever um poema
Que narrasse a vida em seu esplendor !
Harmonioso, sublime, perfeito
Escreveria um verso apenas: AMOR.
(1973)



SAUDADE

Saudade explica por que é que a gente
Alimenta tanto este teu sofrer
Mesmo sabendo que o tempo ido
Não poderá jamais retroceder

Saudade - um cutucar de espinhos
Com mel na ponta pra ludibriar
A gente bebe, tem sabor de vinho
Que só faz mesmo nos embriagar


Saudade - um cair de folhas mortas
Se esparramando soltas pelo chão
Emana seiva que alimenta a terra.
Como a lembrança, aduba o coração

Saudade, dor doída que consola
Mesmo fazendo o coração sofrer
Mas quem na vida não pediu a ela
Uma esmola pra sobreviver.


Coaraci, Julho de 2007


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Busca



Que busco eu ?
 Amor?
Venturas?
Aventuras?
Que busco eu?
O olhar que não veio?
O sorriso que secou?
O beijo que não foi meu?
Que busco eu?
Não sei!
Quem sabe?
Ninguém?
Nem eu. 
      Ilhéus-Bahia/1969
                

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

SONHOS IDOS

Tentei, quis ser e não fui
e não sendo
acreditei que não sonhei como devia

fui poeta, artista
cantora, pianista
conheci o mundo inteiro
e o mundo me consagrou.

acreditei que cantava
encarei plateias e fui aplaudida.
libertei na voz a alma escondida
e desperta ainda, continuei a cantar.

fui artista, roteirista,
desempenhei inúmeros papeis
em peças que eu mesma escrevi
e que não sendo, de fato não as vivi

fui poeta, versista
de rimas pobres, quebradas
quis dizer tudo e não disse nada
estéreis as minhas inspirações

quis ser, não fui e nem sou.
sou apenas mais uma que sonhou viver
e não viveu o que de fato sonhou

de “ista” em “ista”
foi grande a minha lista
e pequena a minha lucidez

para que aterrissei?
não sei.
não me encontrei aqui
joguei, julguei, representei
e sem morrer, morri.

Rio, 1989. Jailda Galvão Aires.