Por horizonte: poeira.
Terras secas e rachadas,
Quebrando pás e enxadas,
Sem cerca, eira e nem beira.
Terras secas e rachadas,
Quebrando pás e enxadas,
Sem cerca, eira e nem beira.
Somente o sol por fronteira
Castiga, queima, inferniza.
Nenhum bafejo de brisa.
Só o gemer da porteira.
Castiga, queima, inferniza.
Nenhum bafejo de brisa.
Só o gemer da porteira.
Já não existe parreira,
Nem sombra, água ou abrigo.
Só um imenso jazigo,
De animais em fileira.
Vazias, as algibeiras,
Nos ombros secos de um forte,
No chão - carcaça e morte.
No céu - aves carniceiras.
A fome leva à cegueira,
À criança – qual palito,
Neste deserto maldito,
Só raízes na chaleira.
O gado morrendo à beira
De um lodoso sequeiro.
Nem mato ou capim rasteiro,
Só fome, dor e caveira.
Comendo rato e poeira.
Coração triste, ofegante,
Enrugam os pés e a fronte,
Nem sentem a dor costumeira.
Numa prece derradeira,
Erguem as mãos ao infinito,
Ninguém escuta o seu grito,
Cala o céu e a terra inteira.
Neste deserto maldito,
Só raízes na chaleira.
O gado morrendo à beira
De um lodoso sequeiro.
Nem mato ou capim rasteiro,
Só fome, dor e caveira.
Comendo rato e poeira.
Coração triste, ofegante,
Enrugam os pés e a fronte,
Nem sentem a dor costumeira.
Numa prece derradeira,
Erguem as mãos ao infinito,
Ninguém escuta o seu grito,
Cala o céu e a terra inteira.
“ - Só nos resta uma maneira:
Sampa ou Rio de
Janeiro,
Lá a gente faz
dinheiro
Nossos guris faz
carreira
Nós vorta. Vai
que Deus queira.”
- Ilusão filha da peste!
Não voltam mais pro nordeste.
- São escravos de empreiteira.
A ascensão é herdeira,
De uma elite que se elege.
Mas só os bancos protege,
Cueca, meia e carteira.
Maquinam a vida inteira,
Fraudando a “indústria da fome.”
Mancham nome e sobre nome
Sangrando nossas bandeira!
Rio, 25/07/2015. Jailda Galvão Aires.