A multidão passou...
mora agora na mansão do medo
das flores apáticas, gélidas, petrificadas.
A multidão passou...
neste dia o mar secou
as nuvens fugiram
a seca invadiu a terra
e o mundo, adubado de tristezas
não germinou
não criou,
não se multiplicou
a terra ficou vazia
sem luz
sem guizos
sem vozes
sem risos
findou toda a alegria.
e os homens!?...
emudeceram todos.
não haverá amanhã
nem futuro e nem presente
quem sabe um amanhã doente!
Os homens inventaram muito
buscaram muito
desafiaram os céus
venceram epidemias
fizeram-se Deus clonando vidas
manipularam o macro e o micro
tornando a alma amarga e fria.
fomentaram guerras e venderam armas
cogumelos radioativos envenenaram o ar
dizimaram cidades
mutilaram inocentes
infecundaram o solo por mil anos
Os homens ...
fizeram bombas
e se fizeram bomba
sem compreender
fabricaram a via dolorosa.
a multidão passou...
mora agora na mansão do medo
das flores, apáticas, gélidas, medrosas...
Bahia, 1968. Jailda
Galvão