sexta-feira, 17 de fevereiro de 2023

SÓ MAIS UM CARNAVAL

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    Carnaval

    Carne e aval

    aval da carne

    carne e sal

    sal que arde

    a pele encarde

    a mente invade

    insanidade total

    Carnaval

    mais epiderme

    menos vestes 

    mais derme

    e germe

    na alma e na pele

    Carnaval

    carne em transe

    transe coletivo

    arroubo total

    esconde as aventuras

    de não ter ventura

    pra comemorar

    dias de folia

    que anestesia

    a dureza da vida

    sem saída

    sem escolas,

    sem comida

    sem teto

    sem hospitais

    Carnaval

    delírio coletivo

    arenas romanas

    pão e circo

    anfiteatro nas ruas

    seminuas

    as passarelas

    amarelas...

    com as sequelas

    epidemias

    drogas

    boemias

    torneiras vazias

    fome, miséria,

    rostos mascarados

    caveiras, corcundas

    olheiras profundas

    barriga afunda

    vazia, vazia,

    há mais de três dias.

    E os retirantes?

    queimado as frontes

    no sol das praças

    dor e desgraça

    farinha e cachaça

    iludindo a fome

    que só consome

    e amordaça.

    E os fugitivos? 

    prisioneiros cativos

    enchendo abrigos

    somando a massa

    de boias frias

    em plena folia

    barrigas vazias...

    vazias... vazias

    boiada passando

    remando, remando

    sem rumo a pastar

    sem pátria, sem lar.

    E o planalto?

    lá do alto

    olhando o asfalto

    aproveitando

    o delírio bestial.

    injetando impostos

    enchendo os bolsos

    com o amargo suor

    sem pena e sem dó.

    - Eis mais um carnaval.

    E a propósito,

    mais um depósito

    no paraíso fiscal.

     E o salário afinal?

    - uma miséria sem igual

    Mascarada pelo carnaval

    Infelizes!!!

    que dormem

    acordem!

    é mais um carnaval

    ilusão

    suor,

    carne,

    sem aval

    O que muda afinal?

    “Tudo como dantes,

    no quartel de Abrantes”

    e mais adiante

    triunfante...

    o próximo carnaval.

    -Tudo igual... igual...igual...

       Jailda Galvão Aires Rio,16.02.23


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