domingo, 31 de março de 2013

IMAGEM ESCULPIDA pela "INDÚSTRIA DA SECA"

                        
           A carcaça apoiada ao galho seco 
             Não é uma  obra de arte perfeita 
             E ao mesmo tempo repulsiva.
             - Ai meu Deus, quem dera fosse!
  É obra de uma morte morrida, lenta, carcomida,
  Esculpida com o cinzel da sede e da fome
  Churrasco vivo com as brasas que o sol respinga.
  Carne estorricada e infectada que ninguém come,
  Só os chacais e carcarás do árido sertão. 

 Causa-nos revolta, descrença e lágrimas.
 E ainda que o mundo inteiro chorasse...
 Não molharia a pele do chão.
 Não enlamearia os açudes,
 Não forraria o leito das cisternas.
 Nem baixaria a poeira fétida e purulenta,
 Dos mil e novecentos municípios do sertão. 

 A água que há anos o céu não deságua,
 Virou artigo de luxo, vendida a peso de ouro.
 Há quem o gado venda para lucrar com a água,
 Salobra, barrenta, contaminada, infecta.
 Mais um artigo inserido na INDÚSTRIA DA SECA.
 Mais uma corrida ao líquido tesouro! 

 Até quando taparão o sol com a peneira,
 Tomando o brasileiro por desatento e inculto.
 Ludibriando com olimpíadas e roque in rol?
 Faturando o dobro nas Copas do futebol?
 Por Deus, por Padre Cícero e pelos   Franciscos! 
 Até quando abduzirão os nossos suados impostos
 E as verbas para desviar o curso do Velho Chico? 
  
 Ninguém vê os pés rachados como a terra seca
 As mãos feridas com os espinhos dos últimos pés
 de mandacaru e macambira, para salvar o gado?
 Palmas em panelas de barro para tirar o amargo
 E mascarar a fome dos adultos e das crianças? 

 E dizem que a escravidão acabou. - Elite de canibais. 
 Não vêm que a fome e a sede, são grilhões, 
 Que corroem o estômago, adoece e mata,
 Deprimem e aprisionam a fé e a esperança?

"Maltrato aos animais é crime no Código Penal."
 A quem culpar a morte sofrida de cada animal
 E a vida breve do sertanejo vítima do abandono total?

 Bandos de carcarás que representam a nação
 E que prometem acabar com o flagelo da seca...
 - Quem os levará a pagar pelos crimes da indiferença
 Responsável pela morte penosa e interminável do sertão?
                                                      Jailda G Aires. Rio 31/03/2013

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