terça-feira, 24 de junho de 2025

RENATO - MEUS OITO ANOS

Quantas lembranças eu tenho

Arquivadas no meu peito

   Pretérito mais-que-perfeito

Vivências que não tem fim.

Recordações que parecem

Estrelas que resplandecem

E brilham dentro de mim

 

Quantas saudade eu tenho
   Da minha eterna criança

Da casa e da vizinhança

Do lugar onde vivi

Da Itamotinga dourada

Montanhas esbranquiçadas

Pedra em tupi-guarani

 

São lembranças tão ditosas
Os dias de minha infância,
Da casa, guardo a fragrância,

Tão bela como um poema

Cada mano que chegava

As roupinhas perfumadas

Com incenso de alfazema

 

Quão alegres eram os dias

E as noites de São João

Estrelas beijando o chão

Canjica e mungunzá

Ruas cheias de fogueiras,

Fogos, forró, brincadeiras,

Itamotinga a dançar.

 

Como esquecer o Natal?!

No presépio os sapatinhos

Esperando os presentinhos

Uma alegria sem igual

A noite o carrossel,

Comidas, doces a granel,

Festança no arraial.

 

Jayme Galvão e Zildinha

Faziam a festa inteira

Dirigiam a brincadeira

Numa alegria sem igual

Barracas, doce a granel,

Sanfona no carrossel

Festança no arraial,

 

Eu gostava de aprontar,

Com minhas caras irmãs,

Que ao despertar de manhã,

Lá no teto balançando,

Suas bonecas. Coitadas!

Tão belas, mas, enforcadas,

Saiam as duas chorando.

 

E os roletes de cana

Os grandes eram só meus,

Das manas se via o céu

Pois os cortava fininho,

E os canudos de mamão

Eu ficava com o grandão

Bebia a água sozinho.

 

E a guerra de mamona

Eu no alto da mangueira

Manos no chão em fileira.

Embaixo chumbo levando,

Tonho e Chico - os caçulas,

Apanhavam como mulas,

Eu só sorrindo e atacando

 

De Sampa, a mercadoria,

Trazida pela manada

Deixava a praça tomada

Gente por todos os lados,

À noite nossa família

No salão se reunia

Pondo o preço avaliado.

 

 “De camisa aberta ao peito”

 No riacho, em pleno sol,

 Pescava com meu anzol,

 Piaba e peixe miudinho

 Saia às escondidas

 Fugindo de mamãe Zilda.

 Retornava de mansinho.

 

 Nosso Padrinho Etelvino

 Parecia um adivinho

 Chegava bem de mansinho

 Quando o coro ia cantar.

 Nos livrava do castigo.

Até hoje ainda bendigo.

O meu padrinho chegar.

 

Assim vivi minha infância

Jogando bola na rua

Ao clarão da grande lua

Clareando o arraial 

Pique esconde, e pelada,

Guerra com a molecada

Gude e batalha naval.

 

Certo dia eu me dei conta,

Que minha infância fugia,

Para Ilhéus eu partiria

Pra estudar de verdade

Papai dormiu ao meu lado

Os dois deitados abraçados

Soluçando de saudade.

 

Partimos em dois cavalos

Numa tristeza sem fim

Pensava dentro de mim

Viver sozinho eu vou.

Moraria num internato,

Para alegria, de fato,

Tia Nair me adotou.

 

E assim meus oito anos

Bem descrito por Abreu

Confesso encontrei o céu

Em cada verso descrito

A minha infância querida.

Guardarei por toda a vida

Os anos mais que benditos.

 

   De: Jailda Galvão Aires

Para Renato Andrade Galvão

 

Oh! Que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!

 



 

 

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