sábado, 8 de junho de 2024

LEOA FEROZ

  Sou leoa aloprada que nunca descansa

mesmo dormindo o meu inconsciente

fica atento ao inaudível ruído

que vem das fendas do desconhecido.

se fecho os olhos farejo o ar vertente

advindo dos raios de algum sol poente.

tatuo as rosas sem ferir as mãos

meu sexto sentido prioriza escolhas

seguindo e aperfeiçoando intuições

 Desembarcou do ônibus sentindo a tontura dos viajantes. Horas de balanço constante, acelera e freia, sobe e desce, motor que ronca numa constante e gente que por vezes grita e sussurra. O calor e o frio se misturam dentro do espaço acondicionado sem ar. 

sozinha, quantas vezes fiquei no meio da estrada

- O coletivo velho e ruidoso de tanto galopar buracos, enguiçava.

viajantes desciam da nave carcumida à espera de uma carona.

O frio do inverno do sul da Bahia era gélido  de doer os ossos.

vaga-lumes  piscavam no asfalto esburacado.

O ruído umbrático da noite piava e farfalhava. 

enfrentei o medo e peguei carona com conhecidos 

ou na boleia de ignotos mas educado caminhoneiros.

mesmo atrasada cheguei a faculdade 

e  se para Nietzsche “Deus está morto”

e esta era a única questão, versei`a prova, em vinte minutos

conquistando meu  suado e trabalhado diploma

se por quarenta anos engavetei conhecimentos

filosofei e versei alegrias e tormentos. 

 

Trago nos ombros o peso do mundo

sentindo a dor humana atravessada em mim.

sofrendo e lamentando por ser assim

que Deus perdoe este ser infecundo.

percorri caminhos que não escolhi.

a vida me pregou peças. Lutei até o fim.

feliz por inteiro quem o é nesta vida?

incoerente, incongruente, sem freio

entre atalhos e pedras não encontrei saída,

Mas sei que valeu a pena... E como valeu.


Jailda Galvão Aires  (Rio. 17705/2024)