Carnaval
Carne e aval
aval da carne
carne e sal
sal que arde
a pele encarde
a mente invade
insanidade total
Carnaval
mais epiderme
menos vestes
mais derme
e germe
na alma e na pele
Carnaval
carne em transe
transe coletivo
arroubo total
esconde as aventuras
de não ter ventura
pra comemorar
dias de folia
que anestesia
a dureza da vida
sem saída
sem escolas,
sem comida
sem teto
sem hospitais
Carnaval
delírio coletivo
arenas romanas
pão e circo
anfiteatro nas ruas
seminuas
as passarelas
amarelas...
com as sequelas
epidemias
drogas
boemias
torneiras vazias
fome, miséria,
rostos mascarados
caveiras, corcundas
olheiras profundas
barriga afunda
vazia, vazia,
há mais de três dias.
E os retirantes?
queimado as frontes
no sol das praças
dor e desgraça
farinha e cachaça
iludindo a fome
que só consome
e amordaça.
E os fugitivos?
prisioneiros cativos
enchendo abrigos
somando a massa
de boias frias
em plena folia
barrigas vazias...
vazias... vazias
boiada passando
remando, remando
sem rumo a pastar
sem pátria, sem lar.
E o planalto?
lá do alto
olhando o asfalto
aproveitando
o delírio bestial.
injetando impostos
enchendo os bolsos
com o amargo suor
sem pena e sem dó.
- Eis mais um carnaval.
E a propósito,
mais um depósito
no paraíso fiscal.
E o salário afinal?
- uma miséria sem igual
Mascarada pelo carnaval
Infelizes!!!
que dormem
acordem!
é mais um carnaval
ilusão
suor,
carne,
sem aval
O que muda afinal?
“Tudo como dantes,
no quartel de Abrantes”
e mais adiante
triunfante...
o próximo carnaval.
-Tudo igual... igual...igual...
Jailda Galvão Aires Rio,16.02.23