quarta-feira, 27 de novembro de 2019

SAGA DOS RETIRANTES

No ar odor e poeira.
Terra seca e rachada,
Trincando a pá e a enxada,
Sem cercado e nem beira.

Tendo o sol por fronteira,
Que castiga e inferniza,
Nenhum sopro de brisa,
Só o gemer da porteira.


A velha e seca parreira,
Não dá sombra nem abrigo.
No chão um imenso jazigo,
De corpos nus em fileira.
Uma vazia algibeira,
No ombro roído de um forte,
Carrega o cheiro da morte,
Tange aves carniceiras.

A fome leva à cegueira,
A cada criança-palito.
Neste sertão maldito,
Só raízes na chaleira.

O gado, morrendo à beira
De um fétido sequeiro.

Murchou o verde rasteiro,
Só fome, pranto e caveira.


Cheirando odor e poeira.
Segue em fila o retirante,
Sangrando os pés e a fronte,
Dor doída e costumeira.

Numa prece derradeira,
Leva as mãos ao infinito,
Ninguém escuta um só grito,
Surdo o céu e a terra inteira.

Há uma culpa cegueira,
De uma corja que se elege.
Mas só aos bancos protege,
E a vida financeira.
Tem por cativa a cadeira,
Fomenta a "Indústria da seca”
O pobre não tem defesa...
Só morte exílio e canseira.

A classe politiqueira
Promete a cada eleição
Levar agua pro  sertão
Mas vive da roubalheira.
A seca não gera a fome
A ganância é que consome
Toda a verba brasileira.

- Tenho filho e companheira
Animais que estão morrendo 
Cadê as verbas? Não entendo
Não tem água na torneira!
Porque Israel floresce?
Se o Brasil mesmo quisesse
Brotaria a Pátria inteira.
Jailda Galvão Aires 13/05/2010




What do you want to do ?
New mail

Nenhum comentário: