Nos braços da noite
debrucei de frio
e me aqueci ao luar
De repente, uma solidão indizível
transportou-me as estrelas
silenciou meu pranto
enchendo-me de belezas!
Meu coração transbordou vida!
a noite resplandeceu
aqueceu o frio
e me encontrou.
luzes azuis tingiram o luar
o céu e o mar fundiram-se num só
os meus olhos com os teus
nossa voz, nossos sonhos
o nosso perfume
os nossos sorrisos
o nosso amor
infinitamente azul
gotejava céu e mar.
- dois olhos num só olhar...
Jailda Galvão Aires
Um dia, de repente,
a gente se descobre amando
e sem saber porque nem como
transborda-se mulher.
O mundo rouba as cores do arco-íris
translúcido. Encantador
em cada olhar uma promessa, um sonho.
em cada sorriso a espera de mil beijos
um caminho novo, indecifrável.
andeja-se dias, noites, eternidade...
e nem percebe o caminhar.
de repente, olha em volta e decide voltar.
Procura a estrada...
os rastros foram apagados pelas folhas secas
vem uma necessidade imensa de continuar.
agradece a estrada que se desfez
que não deixou voltar
e, a gente segue, segue e não se cansa nunca
de caminhar em busca deste eterno olhar.
Coaraci, 05/10/72 JAGalvão.
Cinzas mortas num cinzeiro frio
saudade apenas...
nada mais
um medo instigante, bifurcado.
medo da solidão
medo do inverno
medo dos sonhos
medo da realidade fria
que agonia!
Tudo passado
passado morto
presentes de saudades para debulhar.
sonhos desfeitos
recordações apenas
nada mais que saudade
insistente.
só
solidão
somente
soledade ...
Os sonhos são como os sonhos
Se desperta sempre
é triste deixar o coração sonhar.
Ao acordar apenas sofrimento
a saudade perto machucando a gente
aumentando a dor que o tempo não desfaz .
Uma vontade de pegar tudo de novo
Apertar entre as mãos para que o tempo
não carregue embora como sempre faz.
Coaraci 19/11/1970. Jailda Galvão Aires
Você...
Apareceu assim
Vindo de um sonho
Trazendo a esperança de um novo amor
Surgiu na praia como um cavaleiro errante
Embebecida fiquei a te contemplar contemplar
Você...
Apareceu assim
Todo risonho
Sentou ao meu lado
Falou do céu
Falou do mar
Falou de amor
Você...
Foi um instante mágico
uma transformação
em mim nasceu uma esperança doce
De ser você o meu eterno amor
Você...
Veio assim
Quieto, quedo, misterioso
Um silêncio se fez
Nossos olhos falaram
Coisas que só eles entendem
Você...
Tomou-me as mãos
E eu lhe segui sorrindo
Só se falavam os corações
E nos compreendemos de maneira tal
Que o silêncio fez-se linguagem eterna
Em dois dias de indecifrável amor.
Pontal. 11/01/1969
A felicidade partiu antes do tempo
não deveria ser assim brutal, ligeira
deixando no coração
uma vontade insaciável
de quem não consegui matar a sede.
no deserto árido e frio que ficou
todo o jardim secou
nem miragem existe
que possa enganar a alma.
que a tanta dor já não resiste.
a felicidade partiu
esquecendo em meus lábios
o mel que ainda adoça
o vinho que inebria
e que meu peita acossa.
A felicidade partiu
deixando uma saudade intensa
de tudo o que tivemos
e que vivemos dia após dia
Um elo se rompeu sem chance de alvorecer
deixando uma vida inteira por viver.
Coaraci-Ba./1968
Setenta anos não são setenta dias,
Nem sete anos da segunda infância
São sete décadas de alvoradas
frias
Setenta primaveras de fragrância!
Setenta anos não são
meros segundos
Frações de tempo ou fáceis equações.
É muito chão... Encontro de
dois mundos,
- Um de certezas e o outro de
ilusões.
É ter um lar, e ver partir os
filhos.
Adiar o tempo e encurtar
caminhos.
Rugar o rosto conservando o
brilho.
Fazer amigos e espalhar carinhos
É ser doçura escondendo o pranto
Mascar saudades escutando
estrelas!
Tecer o tempo entalhando o
manto.
Viver mil vidas sem puder
detê-las.
Jailda Galvão Aires (Rio, 2017)
